A dieta tem ação na modulação do sistema imunológico, sendo que vários nutrientes, como o ômega-3, podem ter influência nos processos neuroinflamatórios (MCGRATTAN et al., 2019).
A expectativa de vida está aumentando mundialmente, da mesma forma que doenças não transmissíveis relacionadas à idade e ao estilo de vida, como câncer, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, doenças respiratórias, obesidade, doenças renais e demência (TROESCH et al., 2020).
Esse quadro fez com que múltiplas comorbidades fossem associadas, assim, evidenciando a necessidade de intervenções nutricionais direcionadas a essas necessidades e melhorando, então, a qualidade de vida e diminuindo os custos dos cuidados à saúde (TROESCH et al., 2020).
Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas vivem com doença de Alzheimer e outras demências relacionadas, e que este número deverá triplicar até 2050. Medidas preventivas baseadas nos fatores de risco modificáveis são consideradas estratégias promissoras e, por essa razão, as evidências a respeito sugerem que intervenções dietéticas podem proteger o declínio cognitivo durante o envelhecimento (MCGRATTAN et al., 2019).
Inflamação: a base da fisiopatologia
Tendo em vista que a inflamação é a resposta do corpo a uma lesão, ela desempenha papel central nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), assim, o direcionamento da intervenção nutricional para a inflamação pode ser apropriado para a prevenção e o tratamento das doenças (TROESCH et al., 2020).
Ação anti-inflamatória do ômega-3
Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 de cadeia longa, sendo eles ácido docosa-hexaenoico (DHA) e ácido eicosapentaenoico (EPA), têm como uma de suas principais funções a redução da inflamação (TROESCH et al., 2020).
Assim como todos os mamíferos, os seres humanos não são capazes de sintetizar o ácido α-linolênico (ALA) e, considerando que a síntese endógena de EPA e DHA a partir de ALA é influenciada por uma série de fatores, como genética, sexo e idade, esses ácidos graxos devem ser obtidos por meio da dieta e/ou suplementação (TROESCH et al., 2020).
EPA e DHA desempenham papel importante na sinalização, expressão gênica e produção de mediadores lipídicos, assim, fazendo com que se tenha menos ativação de fatores de transcrição pró-inflamatórios, como NFκB. Esses fatores de transcrição controlam a expressão de genes codificadores de muitas citocinas, enzimas inflamatórias e proteases (TROESCH et al., 2020).
Diante do exposto, é possível afirmar que, mesmo que os efeitos do ômega-3 sejam iniciados no nível da membrana celular, EPA e DHA afetam vários mediadores inflamatórios e suas ações anti-inflamatórias têm efeitos sistêmicos, inclusive no sistema cognitivo (TROESCH et al., 2020).
A relevância do DHA para o cérebro
O DHA tem papel essencial na construção e na manutenção do cérebro, com início na gestação e mantendo-se nos processos de renovação celular através da apoptose. Também atua na perfusão cerebral, assim, modulando, juntamente com EPA, a pressão arterial (TROESCH et al., 2020).
Essa sinergia preserva a funcionalidade dos vasos sanguíneos e previne morbidades, como o acidente vascular cerebral (AVC). O DHA é um dos principais ácidos graxos nos fosfolipídios da membrana na massa cinzenta do cérebro, além de compor cerca de 25% do total dos ácidos graxos no córtex cerebral e 50% no sistema nervoso central (TROESCH et al., 2020; VON SCHACKY, 2021).
Com a população cada vez mais envelhecida, o declínio cognitivo tornou-se uma preocupação crescente, pois estima-se que o número de pessoas com demência dobre a cada 20 anos. Isso pode ser decorrente não só da idade em si, mas pode estar relacionado com o que as evidências crescentes têm apontado sobre a baixa ingestão de nutrientes essenciais, como ômega-3 (TROESCH et al., 2020).
Na revisão de Troesch et al. (2020), foi verificado que a intervenção de suplementação 1700mg de DHA e 600mg de EPA, por seis meses, não afetou os parâmetros avaliados de pacientes com doença de Alzheimer em comparação com placebo. Entretanto, a suplementação teve efeito significativo no funcionamento cognitivo medido com escores específicos.
Ademais, outros achados do estudo sugerem que a prescrição de DHA e EPA pode ser mais efetiva em indivíduos mais velhos com declínio cognitivo subjetivo, dessa forma, prevenindo comprometimentos na integridade de áreas específicas do cérebro e, por sua vez, melhorando parâmetros vasculares e demais funções dependentes (TROESCH et al., 2020; VON SCHACKY, 2021).
Referência
TROESCH, Barbara et al. Expert Opinion on Benefits of Long-Chain Omega-3 Fatty Acids (DHA and EPA) in Aging and Clinical Nutrition. Nutrients. Reino Unido, p. 1-25. 24 ago. 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32846900/. Acesso em: 30 mar. 2022.
VON SCHACKY, Clemens. Importance of EPA and DHA Blood Levels in Brain Structure and Function. Nutrients. Alemanha, p. 1-18. 25 mar. 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33806218/. Acesso em: 30 mar. 2022.
MCGRATTAN, Andrea M. et al. Diet and Inflammation in Cognitive Ageing and Alzheimer’s Disease. Curr Nutr Rep. Irlanda, p. 53-65. jun. 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30949921/. Acesso em: 06 abr. 2022.