A conexão entre o intestino, cérebro e coração é um tema de crescente interesse na ciência da saúde. Atualmente, reconhecemos a intrincada rede de comunicação neural, hormonal e imunológica que liga esses órgãos vitais. Surpreendentemente, nosso intestino é responsável por produzir 95% da serotonina e 50% da dopamina, dois hormônios cruciais para nosso humor e memória. Além disso, essa descoberta nos leva a entender melhor a influência direta que o intestino exerce sobre o cérebro e, por extensão, sobre o coração.
A Influência do Intestino na Saúde Mental
Alterações na interação entre o cérebro e o intestino estão associadas à inflamação intestinal e vice-versa. Dessa forma, essa disfunção pode desencadear distúrbios neurológicos e cognitivos, incluindo problemas de concentração, depressão, ansiedade, TDAH e até mesmo condições neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer. É importante notar que o estresse crônico pode prejudicar a integridade da barreira intestinal, resultando em uma condição conhecida como permeabilidade intestinal. Isso, por sua vez, abre as portas para um estado pró-inflamatório que afeta diretamente o cérebro, criando um ciclo vicioso.
Além disso, há de se destacar que pessoas que sofrem de doenças inflamatórias intestinais têm uma probabilidade maior de desenvolver sintomas depressivos com maior frequência, devido às alterações na produção de serotonina e dopamina associadas à disbiose intestinal.
A Inflamação Crônica e o Coração
Além da conexão intestino-cérebro, inúmeros estudos têm demonstrado que a inflamação crônica desempenha um papel central em condições cardíacas, como doença arterial coronariana e diabetes, impactando diretamente a saúde do coração. Por exemplo, doenças cardíacas, aterosclerose e infartos podem causar rigidez nas artérias. Como resultado, isso resulta em pressão arterial elevada, comprometendo a função cognitiva. Em consequência, quando o coração não bombeia eficazmente, a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro diminui, afetando as redes neurais.
Portanto, podemos identificar uma correlação intrincada entre o que podemos chamar de “eixo cérebro-intestino-coração”. Em virtude disso, as conexões neurais, hormonais e fisiológicas podem impactar diretamente a saúde desses três pilares fundamentais. Por conseguinte, a inflamação crônica emerge como o ponto-chave nessa conexão, podendo ser desencadeada tanto no intestino quanto no coração ou no cérebro, independentemente da ordem.
Fatores Contribuintes para a Inflamação Crônica
Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da inflamação crônica. Estes incluem uma dieta pobre em nutrientes, falta de atividade física, padrões irregulares de sono e estresse emocional. Além disso, desequilíbrios no microbioma intestinal também desempenham um papel importante nesse processo.
Sinais e Sintomas da Inflamação Crônica
A inflamação crônica pode se manifestar de diversas maneiras no corpo. Alguns dos sinais e sintomas incluem:
– Fadiga persistente;
– Falta de energia;
– Depressão;
– Ansiedade;
– Dores musculares e nas articulações;
– Problemas gastrointestinais, como constipação e diarreia;
– Mudanças no peso ou apetite;
– Dores de cabeça;
– Estado mental confuso.
Esses sintomas demonstram claramente como a inflamação crônica pode afetar vários sistemas e órgãos interconectados.
Estratégias para Equilibrar o Eixo Cérebro-Intestino-Coração
1. Cuidados com o Intestino para Evitar a Inflamação
Uma alimentação adequada desempenha um papel crucial na prevenção da inflamação crônica. Em consequência, evitar alimentos ultraprocessados e gorduras saturadas, bem como reduzir o consumo de antibióticos, pode manter a saúde da microbiota intestinal em equilíbrio. Assim, alguns alimentos, como chucrute, kimchi, kefir, missô, cebola, banana, alho-poró, alho e aveia, contêm probióticos e prebióticos que estimulam o crescimento de bactérias benéficas no intestino, ajudando a suprimir a inflamação.
2. Reduzir e Prevenir Danos ao Cérebro
Uma dieta saudável, com baixo teor de sódio e rica em vegetais, incluindo alimentos de cores arroxeadas (como açaí, mirtilo e cebola roxa) e folhas verdes escuras (espinafre, couve e brócolis), pode beneficiar a saúde cerebral. Adicionalmente, esses alimentos podem ajudar a retardar o declínio cognitivo, especialmente em pessoas predispostas a doenças cerebrais.
3. Controle do Colesterol para Proteger o Coração
Controlar o perfil lipídico é essencial para a saúde do coração. Manter níveis saudáveis de colesterol HDL (o “bom”) e reduzir o LDL (o “mau”) é fundamental para prevenir o acúmulo de placas de gordura nas artérias. Dessa forma, adotar um estilo de vida saudável, que inclui uma dieta baseada em vegetais, exercícios regulares e cessação do tabagismo, continua sendo a base para a saúde cardiovascular.
4. Suplementação Inteligente como Aliada
A suplementação adequada também desempenha um papel importante no controle da inflamação. Por exemplo, vitaminas como C, D, E e zinco podem fortalecer o sistema imunológico, desempenhando um papel crucial na modulação da inflamação. Além disso, suplementos como magnésio, fosfatidilserina e ômega 3, com uma boa proporção de EPA e DHA, são benéficos para a saúde cerebral, prevenindo a inflamação nesse órgão. Por fim, a inclusão de probióticos junto com a curcumina, conhecida por sua ação anti-inflamatória e antioxidante, pode ser uma alternativa eficaz para reduzir a inflamação.
Em resumo, promover a saúde do intestino, cérebro e coração está intrinsecamente ligado. A adoção de um estilo de vida saudável, aliada a escolhas inteligentes de dieta e suplementação, pode desempenhar um papel significativo na prevenção da inflamação crônica e na promoção do bem-estar geral. Cuidar desses três pilares é essencial para uma vida longa e saudável.

Bianca Giacomini – Nutricionista
Nutrição Esportiva e Emagrecimento
REFERÊNCIAS
Akkasheh G, Kashani-Poor Z, Tajabadi-Ebrahimi M, Jafari P, Akbari H, Taghizadeh M, Memarzadeh MR, Asemi Z, Esmaillzadeh A. Clinical and metabolic response to probiotic administration in patients with major depressive disorder: A randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Nutrition. 2016 Mar;32(3):315-20.
Kelly JR, Kennedy PJ, Cryan JF, Dinan TG, Clarke G, Hyland NP. Breaking down the barriers: the gut microbiome, intestinal permeability and stress-related psychiatric disorders. Front Cell Neurosci. 2015 Oct 14;9:392.
Roberts, David. Improving Concentration and Focus. Harvard Health Publishing Trusted advice for a healthier life. Harvard Health Publishing Harvard Institutes of Medicine, p.1-21. Disponível em: https://www.health.harvard.edu/special-health-reports
Cryan JF, Dinan TG. Mind-altering microorganisms: the impact of the gut microbiota on brain and behaviour. Nat Rev Neurosci. 2012 Oct;13(10):701-12.
2. Winter G, Hart RA, Charlesworth RPG, Sharpley CF. Gut microbiome and depression: what we know and what we need to know. Rev Neurosci. 2018 Aug 28;29(6):629-643.
Kim HY et al. Phosphatidylserine in the brain: metabolism and function. Prog Lipid Res. 2014 Oct;56:1-18, 2014.
Zhang QE, Wang F, Qin G, Zheng W, Ng CH, Ungvari GS, Yuan Z, Mei S, Wang G, Xiang YT. Depressive symptoms in patients with irritable bowel syndrome: a meta-analysis of comparative studies. Int J Biol Sci. 2018 Aug 15;14(11):1504-1512.
HAMAZAKI, Kei. Role of Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids in Mental Health-Studies from Japan. Journal Of Oleo Science, [s.l.], v. 68, n. 6, p.511-515, 2019. Japan Oil Chemists’ Society. http://dx.doi.org/10.5650/jos.ess19008.